sábado, 30 de agosto de 2008

METEOROLOGIA POLAR: ENTENDENDO OS IMPACTOS GLOBAIS

1
DIA METEOROLÓGICO MUNDIAL - 2007
“METEOROLOGIA POLAR: ENTENDENDO OS IMPACTOS GLOBAIS”

Mensagem do Sr. M. Jarraud, Secretário Geral da OMM
Tradução de Dimitrie Nechet, Professor da UFPA

Todos os anos, no dia 23 março, a Organização Meteorológica Mundial (OMM), os seus
187 países membros e a comunidade meteorológica mundial celebram o Dia Meteorológico
Mundial. Neste Dia comemora-se a entrada, oficialmente, em 1950, da Convenção da
OMM, criando a Organização. Subseqüentemente, em 1951, a OMM foi designada como
uma agência especializada do Sistema das Nações Unidas.
Em 2005, por ocasião de sua Sessão de número 57, o Conselho Executivo da OMM decidiu
que o tema para o ano de 2007 seria “Meteorologia Polar: Entendendo os Impactos
Globais”, em reconhecimento à importância do Ano Polar Internacional de 2007-2008, e
como uma contribuição para esse ano, que está sendo patrocinado pela OMM e pelo
Conselho Internacional para a Ciência (ICSU). Para assegurar que os pesquisadores possam
trabalhar em ambas as regiões polares durante os meses de verão e de inverno o evento, na
verdade, será mantido de março de 2007 a março de 2009. O objetivo fundamental do Ano
Polar Internacional é um intenso trabalho de coordenação internacional, pesquisa científica
interdisciplinar e observações focalizadas nas regiões polares da Terra e os seus efeitos
globais de longo alcance.
Em recentes anos, houve interesse renovado no clima e as nas condições ambientais das
regiões polares que têm alguns antecedentes históricos importantes, já que essas regiões
tradicionalmente desempenharam um papel decisivo nas atividades da OMM e nas
atividades da Organização que a antecedeu, a Organização Meteorológico Internacional
(OMI). Em 1879, o Segundo Congresso Meteorológico aprovou o conceito de um Ano
Polar Internacional, que foi mantido em 1882-1883. O segundo Ano Polar Internacional
que também foi iniciado pela OMI aconteceu em 1932-1933. O sucesso do primeiro e do
2
segundo Ano Polar Internacional conduziu ao desenvolvimento de um Ano Geofísico
Internacional mais amplo, estendendo-se para englobar as latitudes mais baixas em lugar
de, simplesmente, um novo Ano Polar Internacional. Esse Ano Geofísico Internacional, que
durou de 1 de julho de 1957 a 31 de dezembro de 1958, teve conseqüências de longo prazo
em termos de pesquisas científicas pelo envolvimento de 80000 cientistas de 67 países.
Através dos Serviços Nacionais de Meteorologia e Hidrologia e de outras instituições de
seus países membros, a OMM estará fazendo contribuições significativas ao novo Ano
Polar Internacional nas áreas de meteorologia polar, oceanografia, glaciologia e hidrologia,
em termos de pesquisa científica e de observações. Outra contribuição essencial para o Ano
Polar Internacional será fornecido pelo Programa Espacial da OMM. Afinal de contas, os
resultados científicos e operacionais do Ano Polar Internacional oferecerão benefícios a
vários Programas da OMM, gerando conjuntos completos de dados e conhecimento
científico de órgãos oficiais para assegurar desenvolvimento adicional de monitoramento
ambiental e previsão de sistemas, incluindo a previsão de tempo severo. Além disso,
fornecerá valiosas contribuições na avaliação de mudança de clima e de seus impactos, em
particular se as redes de observação forem estabelecidas ou melhoradas durante o período
do Ano Polar Internacional para poderem ser mantidas, por muitos anos, de modo
operacional.
Até agora as observações meteorológicas locais envolvidas nas regiões polares são áreas
menos densas de cobertura na Terra. Assim, a meteorologia polar tem-se baseado
extensivamente nos satélites de órbita polar. Dados anteriores de satélite meteorológicos
obtidos destas regiões consistiram, principalmente, de imagem dos espectros visível e
infravermelho, mas em recentes anos uma gama muito mais ampla de produtos de
instrumentos com microonda ativos e passivos tornaram-se disponíveis, permitindo em
particular a determinação de perfis verticais de temperatura e de umidade até mesmo
durante condições atmosféricas nubladas, bem como de ventos, da extensão e da
concentração de gelo marítimo e vários outros parâmetros. Além disso, esta falta relativa de
observações no local, também foi compensada parcialmente pelo desenvolvimento de
estações meteorológicas automáticas e de bóias fixas e à deriva no gelo.
3
Embora as regiões polares sejam, geralmente, distantes de zonas amplamente povoadas, há
uma grande necessidade de previsões de tempo confiáveis nessas áreas. No Ártico, são
necessárias previsões para a proteção de comunidades indígenas e para apoiar operações
marítimas, como também para a exploração e produção de óleo e gás. Na Antártica, são
necessárias previsões confiáveis para as operações complexas de logística marítimas e
aéreas, como também em defesa de programas de pesquisa científica e pela expansão da
indústria de turismo. A previsão do tempo em todas as partes do mundo apresenta alguns
desafios únicos quando comparado às regiões extra-polares, mas os avanços notáveis que
ocorreram durante os anos recentes em termos de sistemas de observações e previsão
numérica do tempo, resultaram em melhoria considerável na habilidade de previsões do
tempo, incluindo essas regiões polares.
Durante as últimas décadas, foram descobertas mudanças significativas no ambiente polar,
como uma diminuição no gelo perene do mar, o derretimento de algumas geleiras e dos
solos permanentemente gelados e uma diminuição de gelo de rio e de lago. Estas mudanças
que são até mesmo mais evidentes no Ártico do que na Antártica estiveram sujeitas a
consideráveis estudos. O Terceiro Relatório de Avaliação da OMM de 2001, com o
patrocínio do Painel Intergovernamental em Mudança de Clima (IPCC), indica que a
temperatura média da superfície global da Terra aumentou aproximadamente 0,6°C durante
o Século 20. Além disso, o Relatório fez estimativa que a temperatura média global da
superfície estaria subindo de 1,4 oC a 5,8oC no período de 1990 a 2100. No total, o IPCC
estimou que pelo ano de 2100 o nível do mar terá aumentado entre 9 cm e 88 cm, que
causaria um problema muito significativo para muitos Estados em Desenvolvimento de
Pequenas Ilhas e, em geral, para áreas de baixadas do mundo. Atualmente o IPCC está no
processo de preparação do seu Quarto Relatório de Avaliação, que será divulgado durante o
ano de 2007.
4
A diminuição do gelo marítimo poderia induzir à mudanças sérias em ecossistemas
marinhos, afetando mamíferos marinhos e as vastas populações de krill (espécie de
camarão da Antártica), que alimentam inúmeras aves marinhas, focas e baleias. O solo
permanentemente gelado também é sensível ao aquecimento atmosférico a longo prazo e,
assim, é provável ter um descongelamento progressivo nas superfícies congeladas ao redor
do Ártico, acompanhado pela expansão de superfícies molhadas e o potencial para um dano
considerável para o suporte de edificações e da infra-estrutura. Este derretimento também
teria implicações para o ciclo de carbono através da liberação de um dos gases de estufa
mais importantes, o metano, que é mantido dentro do solo permanentemente gelado.
O ozônio é um gás estratosférico extremamente importante já que ele protege a biosfera
absorvendo radiação solar ultravioleta. O ozônio atmosférico foi medido pela primeira vez
na Antártica através de instrumentos instalados na superfície durante o Ano Polar
Internacional de 1957-1958. Desde meados de1970, um padrão diferente foi descoberto ao
término de invernos do Hemisfério Sul, quando um aumento de valores mais baixos de
ozônio foi consecutivamente medido a cada ano até o início do aquecimento de primavera
na estratosfera. Assim, a descoberta do buraco de ozônio da Antártica foi uma
conseqüência importante do Ano Polar Internacional. Foi finalmente determinado que o
"buraco" desenvolveu-se em grande parte, como resultado de emissões de alguns gases
industriais extensivamente usados. Contudo, seguindo medidas adotadas como resposta,
parece estar agora se estabilizando. Se as providências do Protocolo de 1987 nas
substâncias que destroem a Camada de Ozônio forem adotadas, calcula-se que a camada de
ozônio em latitudes médias estará recuperando seus valores normais em meados do atual
século, e que na Antártica essa recuperação exigirá uns 15 anos adicionais.
Contudo, apesar da importância que o estudo da meteorologia polar pode, por si só, é
impossível enfatizar os impactos fundamentais das regiões polares no sistema de clima
global como um todo. As mudanças nas latitudes mais altas podem ter impactos
significativos em todos os ecossistemas e em todas as sociedades humanas, independente
da latitude geográfica. Assim, os impactos da Meteorologia Polar devem ser considerados
dentro de um contexto mais amplo.
5
Realmente, há numerosos exemplos de influências globais das consequências polares. Por
exemplo, gelo polar constitui uma efetiva capa térmica que desempenha um papel crítico na
manutenção da circulação oceânica global. Além disso, as regiões polares têm um papel
primordial na determinação do sistema de clima global, que é guiada pela energia recebida
do Sol, principalmente nas latitudes mais baixas. Como um todo, o equador recebe durante
o ano aproximadamente cinco vezes mais energia calorífica do que os pólos, e a atmosfera
e os oceanos respondem a esse grande gradiente térmico transportando esse calor para os
pólos. Assim, essas duas regiões polares são unidas ao resto do sistema de clima da Terra
por caminhos bastante complexos, baseado em combinações de escoamento atmosférico e
circulação oceânica.
O El Niño-Oscilação do Sul (ENOS) constitui a maior flutuação de massa no Oceano
Pacífico Tropical, associado com variações periódicas nas temperaturas da superfície do
mar do leste do Oceano Pacífico. O ENOS é na realidade um grande ciclo climático e tem
sido mostrado que afeta outras regiões, mesmo distantes da bacia do Pacífico. Por exemplo,
evidências estatísticas mostram que em certas partes da África o ENOS pode contribuir
para a variação das chuvas interanuais e até mesmo para a seca, como na realidade ocorreu
com o evento El Niño de 1991-1992 quando um episódio de seca devastadora ameaçou em
torno de 18 milhões de pessoas com a fome. As "teleconexões" são definidas como
interações atmosféricas entre regiões muito distantes e atualmente os pesquisadores estão
investigando tais relações entre as condições de tempo polares e outros eventos de tempo e
clima.
Assim, o Ano Polar Internacional de 2007-2008 está endereçado a uma gama extensa de
assuntos físicos, biológicos e sociais, direta ou indiretamente relacionados às regiões
polares. A urgência e a complexidade das mudanças observadas nas regiões polares
exigirão uma estratégia científica mais ampla e integrada. A colaboração internacional
aumentada e as sociedades abertas resultantes desse marco e do esforço científico sem
nenhuma dúvida estimulam e facilitam o acesso irrestrito de dados e iniciativas de
pesquisas entrelaçadas. Através de um amplo esforço, o Ano Polar Internacional
6
representará também um passo adiante na disponibilidade de conhecimento científico com
acesso ao público geral. Ao mesmo tempo, a preocupação principal será o fato que os
impactos derivados das regiões polares também são importantes para o sistema climático
global como um todo, de modo que muitas mudanças detectadas nas latitudes mais altas
também terão impactos significativos no desempenho sustentável de todas as sociedades,
independente da latitude geográfica.
A Meteorologia sempre foi reconhecida como um paradigma de uma ciência sem fronteiras
e a Meteorologia Polar é, talvez, o último exemplo deste princípio. Assim, quando a
comunidade meteorológica internacional celebra o Dia Meteorológico Mundial em 2007, é
meu desejo que todos os países membros da OMM reconheçam a importância da
Meteorologia Polar e de seus potenciais impactos globais nas suas vidas, na sua segurança e
na sua prosperidade. Além disso, também é minha expectativa que os resultados desse
esforço possam contribuir para um melhor entendimento da variabilidade e da mudança de
clima, como também para o desenvolvimento e disponibilidade de muitas aplicações
necessárias do clima, um dos maiores desafios do Século 21.

Nenhum comentário: