quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Taxa de câmbio: novas apreciações?

Macroeconomia
Taxa de câmbio: novas apreciações?

Rogério Mori*

Uma das grandes questões em termos econômicos nos últimos tempos no Brasil diz respeito ao comportamento da taxa de câmbio. De fato, a cotação da moeda norte-americana tem mostrado um comportamento sistemático de baixa e pisos da cotação parecem ser rompidos constantemente ao longo do tempo. Nos últimos meses essa história parece se repetir e já se cogita um patamar inferior a R$ 2,00 para a cotação do dólar nos próximos meses.

As razões para tal movimento na taxa de câmbio permanecem centradas tanto no lado do resultado da conta de comércio exterior quanto nos fluxos de recursos externos direcionados para o País.

Do lado da balança comercial, os resultados continuam a se mostrar expressivos e as projeções do mercado financeiro apontam para um saldo comercial superavitário da ordem de US$ 40 bilhões em 2007. Mesmo com a retomada da atividade econômica doméstica (que tem contribuído para estimular as importações) e com a apreciação da taxa de câmbio, o ritmo das exportações segue forte, fundamentado, em grande medida, nos elevados preços internacionais de várias commodities de exportação brasileira.

Ao mesmo tempo, o fluxo de recursos externos direcionados para a economia brasileira segue forte, contribuindo para exercer pressões adicionais sobre a taxa de câmbio. Nesse sentido, apesar das reduções da taxa básica de juros (Selic), os ativos financeiros brasileiros mostram-se relativamente atrativos. Os sucessivos recordes do Ibovespa ao longo de abril refletem, em grande medida, esse processo. À medida que, afora alguma surpresa, não se espera uma reversão desse quadro no médio prazo, as pressões no mercado de câmbio no sentido de apreciação da moeda brasileira devem prosseguir nos próximos meses.

Em função das apreciações da moeda brasileira, verificadas, a taxa de câmbio real efetiva encontra-se em um patamar similar ao verificado em 1999. Pressões adicionais de apreciação da moeda brasileira apenas reforçarão o quadro de agravamento de vários setores da economia nacional, em particular aqueles mais sujeitos à concorrência externa.

Os esforços do Banco Central para tentar evitar novas apreciações do real em relação ao dólar têm se mostrado relativamente infrutíferos. Mesmo com as maciças compras de dólares por parte do BC no começo do ano, a cotação da moeda norte-americana tem registrado sucessivas quedas.

A apreciação da moeda brasileira diante do dólar, no entanto, tem tido efeitos sobre o comportamento da inflação ao longo desse período. De fato, a evolução dos preços dos bens comercializáveis com o exterior tem contribuído significativamente para desaceleração do ritmo da inflação (vide gráfico), o que tem proporcionado cada vez mais espaço para que o Banco Central promova reduções da taxa básica de juros (Selic). O conjunto dos bens comercializáveis com o exterior no IPCA registrou inflação de apenas 1,19% nos últimos doze meses, terminados em fevereiro de 2007. Tal fenômeno contribuiu expressivamente para que o IPCA registrasse inflação acumulada em 12 meses próxima a 3% ao longo do período, situando-se significativamente abaixo da meta estabelecida de 4,5% para o ano passado e para 2007. A fonte mais significativa de inflação no curto prazo tem origem no comportamento dos preços dos produtos não comercializáveis com o exterior, mas seu patamar também é relativamente confortável, o que sancionaria reduções mais robustas da taxa básica de juros por parte do Banco Central.

Nesse contexto, o eixo da questão da taxa de câmbio se desloca, em parte, para a política monetária. O debate relevante do momento refere-se às razões que estariam levando o BC a manter o conservadorismo nas decisões em relação à taxa de juros, uma vez que o cenário de inflação é confortável e uma aceleração no ritmo das quedas aliviaria, em certo sentido, as pressões no mercado de câmbio, uma vez que, potencialmente, reduziria a atratividade dos ativos de renda fixa para investidores estrangeiros.

A despeito disso, as sinalizações do Banco Central são de que o conservadorismo deverá prosseguir nas próximas reuniões. Nesse contexto, afora alguma surpresa, o quadro de pressões sobre a taxa de câmbio deverá se manter.

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* Professor e Coordenador do Centro de Macroeconomia Aplicada (Cemap) da FGV-EESP


Fonte:http://www.agroanalysis.com.br/index.php?area=conteudo&mat_id=231&from=abreaspas

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Agropecuária: vilã e vítima das mudanças climáticas

http://colunas.globoamazonia.com/icv/

Sérgio Henrique Guimarães*

Um estudo realizado recentemente pela Embrapa e Unicamp (Aquecimento Global e a Nova Geografia da Produção Agrícola no Brasil) afirma que se nada for feito para reduzir os efeitos das mudanças climáticas, o aumento das temperaturas em decorrência do aquecimento global pode provocar perdas nas safras de grãos de cerca de R$ 7,4 bilhões, já em 2020. A soja é cultura que deve sofrer maior impacto com a elevação de temperaturas; no pior cenário, o principal produto de exportação do Brasil pode apresentar perdas de R$ 3,9 a 4,3 bilhões em 2020.

Na verdade esses resultados confirmam o que já foi anunciado pelo IPCC (Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas) em 2007, que a produção de alimentos em todo o mundo poderá sofrer um “impacto dramático” nas próximas décadas por conta das mudanças climáticas. Que todos os países serão afetados e os grandes produtores agrícolas, como o Brasil, sentirão os efeitos já na próxima década.

No Brasil, o quarto país maior emissor - ao contrário do resto mundo, onde a maior parte das emissões são oriundas dos combustíveis - o desflorestamento e a agropecuária são responsáveis por cerca de 75% das emissões, principalmente pelo desmatamento e queimadas na Amazônia. Logo, a agropecuária brasileira e mais especificamente da Amazônia, está no centro dessas questões: tanto como o maior indutor do desmatamento, portanto um dos “vilões” causadores do aquecimento global; quanto por ser uma das maiores “vítimas” desse grave e complexo problema, que pode comprometer de forma dramática a produção agrícola, a economia e as condições de vida no Brasil.

Mas se é parte importante do problema, também pode e deve ser parte essencial das soluções – até porque esses cenários só ocorrerão se nada for feito para a redução das emissões e dos seus impactos.

Nesse sentido, as conclusões dos estudos são muito claras quando afirmam que cabe ao setor trazer soluções para minimizar o problema. Sendo a principal delas adotar práticas que impeçam o avanço do desmatamento para novas áreas de plantio. Que os milhões de hectares de pastos degradados hoje existentes, se bem trabalhados, podem abrigar o a expansão da agricultura sem que seja preciso derrubar mais árvores. O que, aliás, vem sendo dito também por lideranças do governo e do setor do agronegócio. Para tanto, é necessário a intensificação de técnicas já existentes como a integrar numa mesma área lavoura e pecuária, usar sistemas agroflorestais e agrossilvipastoris, adotar cada vez mais o uso do plantio direto e reduzir o uso de fertilizantes a base de nitrogênio.

O desafio é colocar em prática, o mais breve possível, essas recomendações e buscar reverter os prejuízos ambientais e econômicos à vista. Para tanto, são necessárias políticas públicas adequadas, mas também lideranças que tenham visão clara da dimensão do problema e estejam à altura do grave momento.

*Sérgio Henrique Guimarães é coordenador executivo do Instituto Centro de Vida – ICV.

http://colunas.globoamazonia.com/greenpeace/2008/10/31/projeto-de-lei-pode-legalizar-destruicao-de-metade-da-amazonia/